A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara
dos Deputados promove desde a manhã desta terça-feira (3) um seminário
sobre os impactos da nova legislação trabalhista (Lei 13.467/17) no
Brasil. Entre os convidados estão a pesquisadora do Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do Trabalho - CESIT/UNICAMP, Marilane Teixeira, o
representante da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América
Latina e o Caribe (CEPAL), Marcos V. Chiliatto, e o diretor técnico do
DIEESE, Clemente Ganz Lúcio.
"Os três temas usados pelo governo como marketing de divulgação da
reforma - crescimento econômico, estabilidade jurídica na análise dos
processos e crescimento de emprego - não aconteceram", disse o deputado
Bohn Gass (PT-RS), um dos autores do requerimento para realização do
evento, previsto para terminar às 18h.
Com quase oito meses de vigência da reforma, o que se observa é a
frustração de todas as expectativas. De janeiro até maio deste ano, a
informalidade (empregos sem registro) e a terceirização cresceram
assustadoramente no país. Por outro lado, os postos de trabalho
ofertados caracterizam-se por empregos precários e de baixa remuneração.
Desde a implantação da nova lei, que instituiu o negociado sobre o
legislado, mais de 67 mil trabalhadores foram demitidos por acordo
mútuo, sem homologação dos sindicatos, impedindo assim, a vigilância
dessas organizações em relação a natureza das demissões . As novas
regras acabaram com a obrigatoriedade de sindicatos ou o Ministério do
Trabalho homologarem as rescisões de contrato de trabalho com mais de um
ano.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) ainda
apontam mais de 11 mil contratos de trabalho por tempo parcial e mais de
20 mil contratos de trabalho intermitente, o que ampliou o grau de
vunerabilidade e insegurança entre a classe trabalhadora. De janeiro a
maio deste ano os salários dos trabalhadores admitidos são inferiores a
média os salários dos desligados.
Além disso, os empregos que estão sendo gerados no Brasil, mesmo os
formais, com carteira assinada, são de baixo rendimento salarial, o que,
segundo Marilane Teixeira, pode estar associado com esse tipo de
contratação.
"A reforma trabalhista não foi capaz de estimular o processo de
formalização do grande contingente de trabalhadores que se encontrava na
informalidade desde o final de 2017. Os empregos gerados são
predominantemente informais e as formas de contratação atípicas, que se
concentram nos empregos mais precários e com baixa remuneração. A
instabilidade e a insegurança causadas pela ausência de uma renda
estável estimula, obviamente, a contenção no mercado de consumo, já
preprimido pelo elevado desemprego", disse a pesquisadora.
Para ela, a mudança na lei, ao contrário do que se prometeu, deixou
"o mercado de trabalho reprimido, com a capacidade de consumo reprimida,
num conjunto de variáveis macroeconômicas bastante adversas, tornando
maior a dificuldade de recuperação da atividade econômica".
Impactos na Previdência Social
De acordo Marcos Chiliatto, a mudança na legislação trabalhista
diminuiu também a capacidade de o trabalhador pagar a Previdência
Social.
"Toda reforma que reduz a formalidade e institui o trabalho
intermitente impede o trabalhador de contribuir com a Previdência. No
trabalho intermitente, o rendimento será variável e até inferior ao
salário mínimo, ocasionando risco ao trabalhador de não conseguir
contribuir todos os meses".
Para Chiliatto, o risco de o trabalhador (a) não conseguir se
aposentar por tempo de contribuição no Brasil é cada vez maior, após a
reforma.
Enfraquecimento dos sindicatos
Durante a sua exposição, Clemente Ganz Lúcio disse que a reforma
trabalhista impactou negativamente todo o sistema de relações do
Trabalho e os sindicatos foram duramente penalizados.
"Foram quase três centenas de alteração [na CLT] sem medir impactos".
Ganz Lúcio disse que a reforma quebrou o movimento sindical, deixando os trabalhadores sem proteção laboral e previdenciária.
"Direitos foram perdidos ou flexibilizados. A nova legislação deu
segurança jurídica para empresas fazerem isso sem sindicatos pra
fiscalizar".
De Brasília, Ruth de Souza - Portal CTB